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Santo Agostinho – Um homem entre tempos.

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Dionisius Amendola
fev 05, 2024
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Santo Agostinho – Um homem entre tempos.
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“Só que o demiurgo não é um Deus criador. Não sabe que está construindo um mundo, trabalha como homem que é, pedra após pedra, e logo sua criação escapa, ultrapassa-o e, se ele não a destrói, será ela a destruí-lo.”  

Jérôme Ferrari

Santo Agostinho – Um homem entre tempos.

Roma, 410 D.C.

Havia caos e pânico na cidade mais importante do império,  “ruínas, homicídios, pilhagem, desolação, incêndio, horrores...” que pela primeira vez se abatiam sobre Roma em sua história. Tomada por bárbaros germanos comandados por Alarico, estupros eram cometidos pelas ruas, cidadãos eram torturados para assim revelarem suas riquezas escondidas, e por toda parte, desesperança.

Diante da invasão, os cidadãos romanos não acreditam que estavam a viver o fim de um tempo que parecia eterno, afinal, era Roma a cidade celeste, símbolo da eternidade encarnada em sua arquitetura, em sua cultura, em sua própria ideia de pertencimento a uma civilização. Ainda mais que agora, a cidade celeste encontrava-se sob os auspicios de um novo Deus.

Mas é significativo Roma ceder justamente quando do florescer do cristianismo, religião estranha aos desígnios de um Estado. E dentre os cidadãos de Roma, havia aqueles reacionários romanos, para quem a nova religião, ou o novo Deus, eram responsáveis pela tragédia e decadência que se abate sobre a cidade.i

Roma era a capital de um império que se estendia da Europa ao norte da Africa, chegando a pequena ilha da Inglaterra. Apesar das imensas diferenças internas, uma estrutura arquitetônica e logística unia povos tão diversos em uma comum “civilitas”ii, mesmo aqueles que não apenas tinham poder econômico, mas intelectual (escravos educados na literatura latina eram bens preciosos e possuiam privilegios e eram conselheiros importantes nas casas da aristocracia romana), encontravam nos territorios romanos uma civilização que protegia sob a lei, seus cidadãos.

Diante dos olhos de seus vizinhos bárbaros, o império romano era visto com inveja e admiração, com temor e respeito. Dentre as diversas invasões bárbaras na historia do império, muitas pouco tiveram poder para influenciar ou mudar algo drasticamente. Mesma a tomada da capital romana no ano de 410 por Alarico, apesar de historicamente significar pouco se pensarmos em termos estruturais e mesmo sociais, teve um impacto profundo na vida daqueles que viveram aqueles tempos escatológicos.

Mas é na mente e no coração dos homens que o medo se instala. Diante da crise, romanos pagãos apontam a cristianização do império como causa da invasão e cristãos romanos sentem que de alguma forma, Deus os abandonou.

Em ambos os casos, estamos diante a dissolução de um modo de vida.iii

Romanos reacionários diante da invasão da Capital, retomam as acusações contra os cristãos: são fracos, incapazes de proteger a civilização romana e em seu modo de vida, trazem as sementes da decadência da outrora “cidade eterna”.

Eis o nó gordio explicitado. Pensam aqueles romanos, que sua Roma, latina, civilizatória, seria eterna, destinada a permanecer para além da historia e do tempo, mas que agora naufraga diante dos bárbaros em seus portões fragilizados pela fé daqueles que trazem a nova religião.

É justamente a visão de Roma como cidade eterna que fará com que um homem se aventure a mostrar que todos os esforços humanos voltados para a construção da esperança no aqui e agora estão fadados a perecer em ruínas, e que isto apenas revela para nós, a existência de algo mais profundo e permanente a nos sustentar.

Este homem é Santo Agostinho.

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