Leio a notícia já esperada, morreu Affonso Romano de Sant’Anna. Há pouco mais de um mês já havia partido sua esposa, a escritora Marina Colasanti.
A meu lado há uma pilha de livros do autor que ando a ler com atenção, cuidado e assombro.
Nas páginas encontramos toda uma vida dedicada a ler o mundo, a desvendar o enigma do vazio, a tentar responder que país é este? Para isso escreveu crônicas, poemas, ensaios críticos, apresentando os problemas - a falta de incentivo à leitura, a presença perniciosa de Duchamp na arte contemporânea, o drama da crítica que perdeu seu rumo e a busca pela crítica multidisciplinar, etc -; e desenvolvendo cuidadosamente suas respostas a eles.
Um dos grandes de nossas letras, sua obra há de inspirar caminhos para nós que ficamos.
Que a terra lhe seja leve.
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Eis dois poemas do autor, que encerram o livro Sísifo desce a montanha, e meditam sobre o encerramento final.
Aos que virão
"Eu que sempre amei a vida, desejoso estou já de partir. Não é simplesmente saltar da ponte. É mais manso o desespero: acabar de fazer a mala dirigir-se à estação dissolver-se no horizonte, Cansei de escalar o muro semear entre rochedos gritar pros companheiros. Outros virão, espero Que venham - e de novo - tentarão."
Exercício de finitude
"Só a ausência (a ausência plena) é plenitude.
Repouse em paz, Affonso!