Bob Dylan sempre soube o caminho das pedras, pt.01
Celebremos os 83 anos de Bob Dylan falando sobre...Dylan!
“Animada por aquele que a veste, a máscara transporta o deus sobre a terra, afirma sua realidade, mistura-o à sociedade dos homens, inversamente, mascarando-se, o homem atesta sua própria existência social, manifesta-a, codifica-se por meio de símbolos. A máscara é, ao mesmo tempo, o homem e algo diferente do homem: é a mediadora por excelência entre a sociedade e a natureza, e a ordem sobrenatural habitualmente confundidas.”
Claude Lévi-Strauss, A Máscara, A Arte Mágic, pp. 30
“[Destino] é uma sensação de que você sabe algo sobre si mesmo que ninguém mais sabe. A imagem que você tem em mente sobre o que você é se tornará realidade. É um tipo de coisa que você tem que manter para si mesmo, porque é um sentimento frágil, e se você externalizá-lo, então alguém vai matá-lo. É melhor manter isso dentro de você.”
Bob Dylan, 5 de Dezembro de 2004
Bob Dylan surgiu no burburinho da cena folk americana da década de 1960, que concentrada em Nova Iork, era marcada pela busca de autenticidade artística, pela expressão da política e das causas sociais nas letras, canções e poemas, existia a ilusão de se construir uma experiência que fosse comunal, onde os membros desta comunidade construiriam um mundo melhor, onde preconceitos, guerras, ganância, seriam substituidos por uma nova consciência, por uma nova e mais igualitária sociedade. Tudo que não fazia parte deste ‘ideal’ era falso, pretensioso, mesquinho, fossem as antigas canções que os maiores de trinta anos ouviam, seja as baboseiras pop que os jovens alienados e pequeno burgueses escutavam em suas festas. Frank Sinatra e Elvis Presley eram frutos de uma sociedade construída em cima de falsidade, racismo, abismos sociais alienantes.
Neste novo ambiente cultural os heróis eram aqueles que tinham se sacrificado em nome de uma causa, de uma ideia, que colocaram sua arte a serviço dos oprimidos, dos fracos, dos despossuídos. Era a hora de resgatar a América da ‘California até a Ilha de Nova Iorque’.
Nas ruas, praças e nos cafés de Nova York encontrava-se ‘...um mundo musical...Havia quinze bandas de jug, cinco de bluegrass, e uma velha e maltrapilha banda de cordas, vinte bandas de Irlandeses confederados, uma banda de música Sulista das montanhas, cantores folk de todas as cores e tipos cantando canções de trabalho...bongo, baterias, congas, saxofones, bateristas de todos os tipos de nacionalidades e nações. Poetas a delirar e declamar de estátua em estátua.’
Estes artistas, cantores, poetas e alucinados tinham seu centro nervoso no bairro de Greenwich Village. Lá os artistas anônimos se misturavam com aqueles mais conhecidos, veteranos e os ‘quase famosos’: Dave Van Ronk, Ramblin’ Jack Elliot, Richie Ravens, Phil Ochs, Carolyn Hester, Joan Baez. Pete Seeger e Woody Guthrie eram os heróis desses artistas, homens que pagaram um preço alto por sua arte, por seus ideias. Seeger era um dos cantores de sucesso de maior popularidade alguns anos antes, mas quando seu nome foi parar em uma ‘lista negra’ como comunista, sua carreira foi prejudicada. Guthrie era a principal voz da geração anterior de artistas folks, dono de um estilo único, cantou canções de protesto e de desespero, de esperança e solidariedade, mas terminou seus dias em um sanatório, devastado pela doença de Huntington.
A arte para esse pessoal era algo sério, algo que deveria se alimentar e expressar a dor do ‘homem comum’, dos ‘proletários do mundo’, daqueles que não tinham voz. A autenticidade era a moeda, a verdade social era a palavra.
É neste cenário que vai surgir um jovem e imberbe rapaz, de voz analasada e técnica peculiar, que com sua gaita e seus versos, e com uma inusitada cara de pau e charme pueril, chamava atenção para si mesmo e para suas canções, que tratavam daqueles temas tão caros aos artistas do circuito folk: amor, morte, injustiças, racismo, as tragédias sociais. O nome desse novo rosto, dessa nova voz, era Bob Dylan!
Ele começou a circular no meio folk, cantando em bares por trocados, dividindo o palco dos pequenos e esfumaçados cafés com outros artistas, e atormentando e importunando em busca de espaço. Dylan era naquele momento apenas mais um ‘quase famoso’, e parecia não passar disso.
Mas o destino pode sobrar quando quer e dois acontecimentos irão definir a carreira do jovem aspirante ao sucesso:
O primeiro acontece no dia 21 de Setembro de 1961 quando nas páginas do New York Times é publicada uma crítica sobre uma apresentação de Dylan no Gerder’s Folk City em Greenwich Village.
Bob Shelton já era uma figura respeitada no meio jornalístico cultural, e alguns anos antes havia escrito uma elogiosa crítica sobre Joan Baez que definiu muito do sucesso da cantor. Agora ele repetia a dose com Dylan, um jovem que ‘parecia a mistura de um garoto de coral com um beatnik e cuja voz não era particurlamente bonita’, as palavras de Shelton encapsulam a performance do cantor de forma precisa, e muito do que se escrevera sobre Bob ao longo dos anos será variações deste olhar “O Sr. Dylan é tanto um comediante quanto um trágico. Como um ator de vaudeville no circuito rural, ele oferece uma variedade de monólogos musicais divertidos[.... ]Frases elásticas são esticadas até você achar que elas podem se romper. Ele balança a cabeça e o corpo. Ele fecha os olhos em devaneio, parece estar tateando por uma palavra ou um estado de espírito, em seguida, resolve a tensão benevolentemente, encontrando a palavra e o humor.” E em meio a tantos outros artistas e cantores, Dylan ‘era uma das mais peculiares figuras a tocar nos cabarés de Manhattan em meses...e importa menos de onde ele vem do que para onde ele vai, e parece que ele vai direto pro topo!”
O segundo acontecimento é destas peculiares histórias da cultura pop, tão inusitada que chegou a virar um verbete na Wikipedia, falo da ‘A Mancada de John Hammond’ !
John Hammond já era uma lenda na indústria fonográficaa quando conheceu o jovem e maltrapilho Bob Dylan.
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