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A Rebelião das Elites

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Para Lasch as massas hoje são, de certa forma, o último reduto da estabilidade social, e as elites as principais causadoras de mudanças catastróficas.

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Dionisius Amendola
fev 07, 2024
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A Rebelião das Elites
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A Rebelião das Elites*

O título ainda se refere à antiga edição do monumental livro de Christopher Lasch, uma nova tradução deve sair ainda este ano com o título A Revolta das Elites e tradução do

Martim Vasques da Cunha
.

Essas reflexões ainda são válidas, mesmo escritas já há uns bons anos. Compartilho com os leitores pois acredito servir como uma boa introdução ao livro de Lasch, além de atiçar a curiosidade para com a nova edição da obra.

Boa leitura!


“Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui. Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.”

José Ortega y Gasset

Das vantagens de se ter uma boa biblioteca em casa, uma das mais interessantes é, em um dia moroso, de chuva agradável, fina, a refrescar o ar, esbarrarmos descuidada e displicentemente em um daqueles livros que em determinado momento da vida teve papel fundamental em nossa formação. E apesar de não recordamos em detalhes, sabemos que a “impressão” dos argumentos e ideias está lá; mas, como o rosto de um amigo ou de um parente distantes, suas nuances já nos escapam, ficam borrados os contornos, e o que temos muitas vezes é um fiapo reconstruído de memória. Pois nestes dias morosos, reencontrar um amigo ou um bom livro é um prazer nostálgico, cheio de temores e anseios.

Em ambos os casos, o tempo que passou pode reforçar ou esmaecer a força que ligava e dava coesão à amizade ou ao livro. Grandes livros e grandes amigos permanecem, apesar do tempo. Amizades fúteis e livros frívolos perdem o vigor, e o amarelo das páginas e as rugas nos rostos não carregam aquele ar duradouro de experiência vivida, mas sim o aspecto mofado do tempo.

Hoje, tive a experiência de reler um dos livros responsáveis pela minha primeira “conversão”. Falo do “A Rebelião das Elites e a Traição da Democracia”, do historiador americano Christopher Lasch, um dos grandes “moralistas” das terras do Tio Sam, e que ao lado de Allan Bloom (com o seu “A Cultura Inculta”, outro livro que merece releitura!), influenciou diretamente meu “radicalismo conservador” dos primeiros anos.

“A Rebelião das Elites” foi escrito em 1994, com a urgência da verdade pulsando em cada página, urgência que nasce da consciência e certeza da morte, pois Lasch escreve o livro corroído por um câncer que irá abater sua vida em pouco mais de um ano. O livro é seu testamento e legado, e se há fragilidades em alguns pontos, o que permanece é ainda relevante para nós, mesmo depois de vinte anos.

Ao longo da obra, Lasch analisa a sociedade americana e suas “revoluções” internas que, a partir daquele momento, criam um “mal-estar democrático” que ameaça de tempos em tempos as democracias ocidentais. Os capítulos mostram a preocupação de Lasch com o todo de uma sociedade: as divisões sociais, a mobilidade social, populismo e comunitarismo, o discurso democrático, racismo e minorias, o multiculturalismo, a educação, o papel do jornalismo, a necessidade da democracia e, por fim, mas não menos importante, o papel da religião e da cultura em um mundo cada vez mais secular.

Um dos pontos mais atuais do livro são as questões que envolvem o futuro da democracia. Entende ele que discutir a democracia em todos os seus aspectos é uma, e talvez a principal, forma de preservação dela. Ao deixar a discussão de lado, ou não buscar uma compreensão melhor e mais acertada da realidade, estamos a minar nossas próprias bases, e é isto que, nas palavras de Lasch, é um dos principais aspectos da traição de que ele vai acusa a “elite” americana. Esta visão da democracia, como um amplo espaço onde circulam livremente as ideias e crenças, faz com que Lasch aproxime-se de autores como Leszek Kolakowski e Tony Judt.

Mas antes, o que Lasch identifica como esta “elite traiçoeira”? Tendo como contraponto o clássico livro de Ortega y Gassett, “A Rebelião das Massas”, o autor afirma que esta nova aristocracia não é caracterizada apenas por aspectos econômicos, mas também por um estilo de vida cada vez mais distinto e isolado das outras classes sociais. Elite que busca as benesses da aristocracia sem as responsabilidades desta.

As antigas elites e suas famílias, ao contrário:

“…estabeleciam-se tipicamente, quase sempre durante várias gerações, em um determinado cenário. Em uma nação de andarilhos, a estabilidade residencial lhes proporcionava uma certa continuidade. Famílias tradicionais eram assim reconhecidas, especialmente nas cidades litorâneas mais antigas, apenas porque, tendo resistido ao hábito migratório, elas fixaram raízes. A sua insistência na inviolabilidade da propriedade privada era limitada pelo princípio de que os direitos à propriedade não eram absolutos nem incondicionais. Compreendia-se que a riqueza acarretava obrigações civis.”

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