A morte, o sagrado e a arte
Reflexões sobre a persistência do sagrado na arte contemporânea
A morte, o sagrado e a arte
Por Dionisius Amêndola
A relação entre religião e arte remonta à aurora da humanidade; por milênios esta relação tem sido a base da cultura, de civilizações antigas e daquelas mais próximas de nós.
Artistas eram subordinados e protegidos por instituições e práticas religiosas e, em geral, suas obras eram expressão, reforço ou ainda a paideia do imaginário, aquela dos mitos fundadores, dos tabus – daquilo que era afinal uma tentativa de ordenamento do mundo!
Importante aqui olharmos um pouco mais detalhadamente para as origens dessa relação entre a arte e o sagrado.
Antropólogos e arqueólogos apontam que essa relação se iniciou nas práticas ritualística que envolviam o sepultamento dos mortos. É um evento marcante em nossa história cultural a descoberta de que nas sociedades arcaicas havia um respeito e atenção especial para com os mortos. Este cuidar irá se tornar ao longo dos séculos cada vez mais elaborado e, a partir dele, podemos identificar o surgimento de práticas, ritos, tabus e leis. É também desta prática que veremos surgir os “conteúdos estruturantes” que existem na relação entre os mortos e os vivos (e diria também entre os não nascidos!)
É Maurício Righi quem nos auxilia aqui:
“O desejo de cuidar do morto, preparar-lhe um lugar de repouso e mantê-lo em ordem solicitava enormes esforços e mobilizações de trabalho conjunto, entre as populações pré- históricas (...) uma crescente preocupação com os mortos gerou hábitos e produtos solicitantes de cuidados permanentes, o que aumentou ainda mais o envolvimento desses grupos diante de seus antepassados.” [i]
Desta relação com o ‘lugar dos mortos’, que se torna ‘lugar sagrado’, surge o sentimento de oikophhilia (amor ao lar). Homens e mulheres foram se fixando aos lugares à medida que o caráter sagrado foi se intensificando no trabalho contínuo das gerações. Construiu-se assim a cidade, formou- se assim a cultura.
A "bela adormecida" mumificada de 2.000 anos de idade vestida de seda emerge de um sítio arqueológico na Sibéria.
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